terça-feira, 22 de dezembro de 2009

.das sensações


Já ensaia a tarde, sinto que ela disfarça e finge cair, mas "la verdad la verdad", apenas escorre pelo horizonte ainda tímido. Chega a noite e sussurra, como puta, com voz doce, sobre que eu ainda não tenho certeza que vou dizer.

Todo sentimento me faz pensar que não parece uma boa idéia perguntar se está tudo bem, quando aparentemente tudo está bem. Agir com cinismo, fingir, disfarçar, empurrar até que tudo isto passe. Como dizia meu velho pai: não vou ao médico para não encontrar doenças. Deu no que deu, agora passou, agora é tarde e eu vejo cada dia mais que sou feito desta mesma fraqueza, este mesmo sangue corre em minhas veias.

As vezes me sinto tomado de uma vontade de gritar na tua cara, perguntando: O que tem? O que está errado, pois sou cego e não consigo ver? O que diabos tu anda escondendo por detrás deste sorriso?

Se vais partir espero que tenha passado bons tempos por aqui, mas vá rápido, voe para o desconhecido para que eu tão pronto perceba que já não mais estás aqui, esteja longe o suficiente para eu não poder seguir teus passos. Mas se vais ficar é melhor tirar tudo que está entre nós pois estou sufocando em meio a tantas meias-palavras, meios sorrisos, meias transas, meios de nós mesmos.

Quero andar por aí e conseguir desfrutar os dias ensolarados que me guiaram até agora, nem que isto implique em sair daqui, e se este tal deus que vocês tolos acreditam realmente me deu alguma graça, ele vai encontrar algum lugar para eu cantar minhas canções.

Finda o ano e eu tiro a poeira deste velho livro para aqui escrever talvez os últimos pares de versos destes 365 dias. Quando, olhando para trás, tudo pareceu estar bem, olho pra frente e encaro um mar de gente me trazendo mais nuvens negras.

Acho que meu imaginário cresceu este ano.

domingo, 22 de novembro de 2009

.down


[tua foto]

Hoje eu me sinto um pouco down,
e aposto que tu não tem nada a dizer
tu vai sentir minha falta quando eu não estiver lá
mas sabe, eu não me importo.



sexta-feira, 30 de outubro de 2009

.dos crimes


um belo dia ela acreditou
que o hoje dela era o nosso amanhã
quando este dia chegou ela resolveu mudar
pois sabia que não havia porque ouvir mais desculpas

ela deixou tudo pra trás e seus sonhos encheram o céu
tudo vai ficar bem, o amor não é um crime

como um motor remoendo pecados
sempre relembrando o que ele disse
como aquela canção do teu baile de aniversário
que parece tu nunca vai esquecer

ela deixou tudo pra trás, e seus sonhos encheram o céu
tudo vai ficar bem, o amor não é um crime

pegue um ônibus, ele está nos chamando
tente mudar a cor do teu cabelo
encontre seu caminho na via láctea
você sabe que vai encontrar teu lugar lá fora

ela deixou tudo pra trás, e seus sonhos encheram o céu
tudo vai ficar bem, o amor não é um crime

o amor não é um crime


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

.do pior


o pior de mim aflora
brota e desabrocha em flor, botão
alma podre que carrego em mim inunda
espinha quem me adora, corta a todos
arranha quem tenta me tocar
sangra a carne de quem se aproxima

este é o melhor de mim

sou mais assim, mais navalha, menos aconchego
menos douçura, mais amargor
te escurraço e corro pra junto, lógico
pra que tu não possa em instante algum
deixar de sentir este sabor

odeio-te, porque assim estou!

odeio-te porque tu sabes o melhor de mim!


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

.dos desejos


Poucas palavras arriscam-se a abandonar a garganta agora,
contudo muita imaginação ao seu redor.

Eles dois e tu, porque há muito não falo de ti.

Como uma gata que mia e se roça na mesa, na cama.

Todas as manhãs desperta com olhos de felino,
arranhando a água que derrama do chuveiro.

Ri sozinha enquanto reclama, e manhosa relembra, aos beijos,
com outros dois.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

.do saber


O sol cai
bem em cima do inverno de abril e de mim, certeiro
lembro nitidamente do que ela me disse
e sei não vai mais voltar pra repetir

Queria
fosse somente por mais um segundo
meu velho desejo de congelar o tempo
era criança e naquele momento eu tive certeza
ela não vai mais voltar

O pensamento foge, corre com tudo que tenho pro lado de lá
era a chance de ter vivido mais, menos laranja, mais pomar
mais sem hora pra acordar, menos pressa para chegar
sonho utópico de quem perde a hora e quer recomeçar

acredite só em seus ouvidos
eles são os únicos em que se pode confiar
o que você vê é mentira, são teus olhos a te atraiçoar

vai ficar ainda sentado? torcendo pro amanhã chegar antes da hora
pensamentos aleatórios, ainda agora tu me ronda
vou fugir, hoje quero ser mais azul
quero ser menos água, mais mar

que porcaria.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

.do ano dos 27 anos


Caminhei até a podre e velha adega e peguei o último vinho. Caralho, talvez o último do inverno, abri "com gosto", tomado de um prazer que não saberei direito explicar. Preciso confessar coisas que só o vinho me deixa à vontade para contar agora. São memórias que deveriam ter ficado no esquecimento, deveriam ter se perdido para sempre numa destas bebedeiras quaisquer. Mas eu guardo tudo para o último dia, o último instante.
Assim começa o fim do último dia do ano dos meus 27 anos.
Não sei exatamente se quando o ano 26 morreu ou o 27 nasceu, que eu decidi abandonar tudo, mudar da raia, sair de ato, largar o violão sem tocar a última canção e descer do palco. Com determinação enverguei a sofrível curva do destino que nos determina a ficar em um estreito e ínfimo corredor que delimita o meu espaço entre o dos outros competidores. Correção, estupidez a minha de achar que se tratava de competir... ali em cima eu menti, pois não se trata bem uma competição e sim um condicionamento mental sem inimigos, sem concorrentes. Ah, se tivesse percebido antes.
A corrida dos ratos é assim, no início, cada um em seu cubículo, onde todas as instruções e regras são passadas por durante toda uma infância enquanto te preparam para o dia de finalmente ser liberto (sic). Minha vez no páreo chegou relativamente cedo. Era com 16 anos que estreiei nas, então macias, areias da doce pista que estaria diante de mim por todo um tempo de vida (assim acredito que era o plano).
E como o tempo passou o tempo, este maldito incansável que agarra-se nas crinas do seu cavalo alado, que faz me esquecer de mim e que também me faz recordar tempos depois, me faz descobrir novas vocações na impiedosa tarefa de tirar as pessoas do sério, de deixar marcas nas memórias de muitos, de jamais deixar o meu nome ser esquecido. Diabos, sorrio e bebo mais um gole, sou muito bom nisto.
O ano 27 fica marcado como o ano em que a corrida não mais importou, onde tudo ficou pra trás, contas em banco, tv a cabo, internet, carro, computador. Lindo, absolutamente lindo, é a simplificação da metáfora: "herói hoje é quem quebra os cartões e foge pro meio do mato". Tudo tudo simples, tudo.
Chego hoje em casa e toco violão, finalizo aquela musica que eu começei semana passada e que não deu tempo de terminar, enquanto lembrava de ti. Já tive inclusive tempos em que até minhas mais antigas vontades voltaram à tona. Hoje eu ja sei tocar uma meia dúzia de músicas, descobri e admiti que não sou um Cazuza, tampouco um Liam Gallagher. Mas sei que consigo arriscar em um tom de voz que não compromete, que fica no meio termo, algumas canções. O médio é legal, nem mais, nem menos. Ouço meus heróis de ano após ano cantar la ao fundo. PUTA QUE PARIU, OASIS. Finalmente em noites como estas eu posso ser até mesmo um Rock n' Roll Star.
Hoje eu sei a quem devo explicar algumas coisas e sei o que devo fazer para os que não precisam de nada meu e descobri que tampouco vão tirar à força. Ignorar, ato totalmente honesto mas irrevogavelmente cruel.
Hoje minhas memórias eu faço de sonhos, de utopias que crio e desminto diariamente. Embarco num avião e quando vejo estou em Montevideo, puta viagem massa. America do sul é o que não muda ano após ano, paixão simples e derradora.
De longe meu relato está sendo tão ou mais confuso quando a política no planalto central, eu sei, mas vamos lá, este é o maior símbolo da corrida dos ratos, que hoje está sendo digerido, engolido, mastigado. Estou tão completo de 27 anos que exatamente agora, faltando 2 horas e 21 minutos para o ano dos meus 28 anos iniciar, sei que ja posso até aprender uma nova canção. Me descupem, preciso sair, vou tocar guitarra e esperar o tempo passar como se este último dia fosse uma bela manhã de domingo.

I’m tired and I’m sick
Got a habit that I just can’t kick
(I) Feel hungover and I’m all in love
When the lights go down
I’m gonna shoot ‘em all/up

S’alrite
Don’t be afraid
You gotta keep dreaming in the bed you made
And if it tastes like shit
Well, it beats sleeping rough on the floor

Keep saying that my head’s locked up in the clouds
Keep praying that the lord won’t slow me down
I’m tired and I’m sick
Got a habit that I can’t, won’t lick
Feel hungover and I’m all in love
Let the lights go down
Me and you are gonna shoot em all/up
Queria ter escrito isto, mas quem sabe um dia alguem não aproveite algumas idéias e eu não me torne mesmo um imortal.

Feliz aniversário Gustavo, Feliz aniversário Silent

*fotografia por : Rafael Luchetta

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

.dos aniversários



eu procuro tesouros em terras desertas
eu vejo o X marcado no ar...

sou um nomade dos novos tempos...
nasci de um lado que não é certo
acho que de um lado avesso

acredito ter uma falha mecânica nos olhos
um defeito nos joelhos
uma mente em colapso com meus sonhos
sonhos estes que não me deixam parar de andar...


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

.da vez de não deixar de sonhar


Adeus, adeus amigos, todos vocês... eu estou partindo
Estou indo para longe, aonde eu possa encarar todas estrelas do céu
Mas por favor eu peço a todos, enquanto eu estiver fora que não deixem de sonhar
Não há razão para se sentirem tímidos, não há porquê chorar

Vou para longe pois sei que aqueles raios de sol que me guiaram por tanto e tão longe
Já não estão mais por aqui, pois voltaram pra casa, voltaram para rincão d'onde eu vim
Eu que nunca acreditei em nada, sei que sei deus me agraciar com algo
Ele vai encontrar um espaço para mim em algum lugar
E tudo que eu vou querer naquele momento é estar cantando esta canção

Não desista de tentar se feliz, querido amigo
Não deixe que o fim do show esmaeça suas palmas
Não faça disto parte de sua vida e tudo vai ficar bem
Eu acredito que tudo vai ficar bem...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

.dos acordes


Passar os dias olhando pela janela
é como querer ser um rio sem janeiro
te ver passar todos os dias
é meu triste fevereiro sem carnaval

Já não sou capaz de lembrar tudo que fomos
mas sei que posso fazer seguir acontecendo e acontecendo
mas por favor me diga, se eu estiver na iminência de cair
tu vai estar lá para me aplaudir?
ou covardemente irá se esconder por trás de todos?

Eu preciso saber disto o quanto antes
pois só eu sei o quanto foi difícil
tirar meus pés do chão e crer que eu poderia voar.


.das constatações




(...) é fácil substituir,
mas nada fácil encarar de frente
quando se é substituído!


quarta-feira, 15 de julho de 2009

.das manhãs



Levanta cedo, olha por cima dos olhos, dia já nasceu
Arca a alma, solta o ar, pisa no céu como se fosse chão
Relaxa, encosta, roça teu corpo aqui
Toca teus dedos na minha boca, me lambe com a língua quente
Traço tuas curvas com um sorriso, suspiro no teu pescoço
Tu me envolve, me arrega, me desmancha na cama
Diga algo carinhoso e rola a barra aí e ascende
O marasmo acaba de acabar

terça-feira, 23 de junho de 2009

.dos guardiões



Hoje eu pensei pela chuva
não por ela, mas sim nela
me postei em passos firmes, cenho fechado
trazendo séculos nas rugas da minha face
e o destino de muitos sob os meus pés

Sorri enquanto o efeito devastador fazia seu papel
bebi como se jamais fosse capaz de desmentir aquilo
enquanto sorria percebi que tudo seria irreversível
escorria pela garganta, jã não haveria mais amanhã

Muito se passou, desde o tempo, até formas
tudo parecia me perturbar a atenção
minúsculos se empilhavam diante dos meus olhos
incrível como aquele simples ato, selaria minha escolha para sempre

Aqui, neste exato ponto, eu me perderia na luz
enquanto a escurão passava ao lado
já não podia prestar atenção em nada, nem em mim, nem ninguém
à ponto de achar que o mundo todo estava em camera lenta

Boneca com pernas de aranha
homem urso, mulher tigre
jamais me daria conta de os via, de que eram reais
até que se perguntaram, ele pode mesmo nos ver?

Ele escolheu a luz, guardava a escuridão
raspou de si tudo que é negro
bebia duramente pois sabia que era chegada a hora
como se o mundo estivesse sobre seus ombros naquele momento

Era mais um que fora condenado a manter o equilíbrio.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

.dos virginianos


Do alto de mais de trinta andares, alguém atira da janela abaixo os sapatos de Calvino e a sua gravata (quem?). Calvino não tem tempo para pensar, está atrasado, atira-se também da janela, como que em perseguição. Ainda no ar alcança os sapatos. Primeiro, o direito: calça-o; depois, o esquerdo. No ar enquanto cai, tenta encontrar a melhor posição para apertar os atacadores. Com o sapato esquerdo falha uma vez, mas volta a repetir, e consegue. Olha para baixo, já se vê o chão. Antes, porém, a gravata; Calvino está de cabeça para baixo e com um puxão brusco a sua mão direita apanha-a no ar e, depois, com os seus dedos apressados, mas certeiros, dá as voltas necessários para o nó: a gravata está posta. Os sapatos, olha de novo para eles: os atacadores bem apertados; dá o último jeito no nó da gravata, bem a tempo, é o momento: chega ao chão, impecável.

.roubo descarado. TAVARES, Gonçalo

sexta-feira, 19 de junho de 2009

.da sua


O tempo, rabugento e sorrateiro como bandido de filme mexicano
parece sempre estar agindo por debaixo dos panos
e embrulhou calmamente mentiras em meio as verdades que compramos

Diga baby, deixe as palavras sair, a mente decolar
nos deixamos mesmo iludir ou toda história está travestida numa verdade muito bem contada?

Eu sei que tu um dia acreditou nisto também e nada mais disto vai mudar
nem mesmo eu me sinto seguro o suficiente para tirar os pés do chão

Andar, nem pensar, quero é poder acreditar outra vez
quero vestido longo, unhas pintadas e tua insegurança nesta noite
eu também tenho saudades de ti e de tudo o que não aconteceu
mas na minha cabeça, os meus sonhos são verdade
e eu não vou deixar a chance escapar outra vez, pode apostar.


domingo, 7 de junho de 2009

.das atitudes




I-R-R-E-V-E-R-S-Í-V-E-L
Porque o tempo, destrói tudo
Porque alguns atos são irreparáveis
Porque o homem é um animal
Porque o desejo de vingança é um impulso natural
Irreversível
Porque a maioria dos crimes são impunes
Porque a perda do amado é destruidora como um raio
Porque o amor é a origem da vida
Porque toda a história está escrita com esperma e sangue
Irreversível
Porque em um mundo perfeito
As premonições não modificam o curso dos acontecimentos
Porque só o tempo é capaz de revelar tudo
O melhor e o pior.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

.das terças



Creio que estou morto. Morto pois não sinto nada.
Tento tocar algo sólido mas não tenho consciência exata disto. Posso sentir a pressão que estimula as terminações nervosas da ponta dos meus dedos, posso sentir o áspero da tua textura suave, posso sentir a tua pele delicada. Sinto mas não consigo lembrar, não consigo entender o que exatamente estou tocando. É como se alguém tivesse se apossado das minhas mãos, dos meus olhos, ouvisse através dos meus ouvidos, lambesse a sorte da doce morte com a minha língua, inalasse teu aroma inebriante no meu lugar, um alguém, que diabos, me rouba sem escrúpulos.
É como se simplesmente eu não fosse capaz de me importar com nada, como se sempre algo existisse para me afastar dali, de qualquer um e de qualquer situação. Como se a minha pele e meu corpo pertencessem a um outro alguém, como se cada vez que me abraçassem ou me tocassem, o estivessem fazendo em outra pessoa.
Não sinto nada, não sinto a presença das pessoas ao meu redor. As vejo falar, sorrir, chorar, numa explosão de rancor e sentimentos que apenas passam diante de mim, intransigentes, me ignorando com uma veemência que ainda me supreende.
Posso tentar explicar: é como se eu fosse um mero espectro, um reflexo distorcido da minha forma, mas somente isto, nada além disto, um reflexo borrado da minha personalidade que é incapaz de se importar.
Sinto um pesar intenso só de lembrar que tu não pode ver através de meus olhos para entender o que eu digo neste momento. Provar do gosto amargo da minha maldição, se sentir condenado por milhões de anos, como estou agora, neste mundo paralelo que assola a alma e congela a razão, rasga a carne como se fosse papel, brinquedo. Às vezes até penso que seja sorte tua não saber como é, pois não sei se tu resistiria. A cada manhã é como se eu despertasse de um sonho ao lado de alguém muito especial. Mas não alguém concreto, alguém que me deparo e não julgo ser melhor ou pior, mas apenas outra parte de mim, um demônio que sonha mas não sente nada nunca.
Tentar encontrar esta consciência acho que é possível, mas parece sempre haver algo altamente disposto a me impedir. Sempre que tento encontrar respostas o destino me torce e soterra todas as lembranças de quando pareço finalmente ter encontrado alguém que me agrada, que gosto. E então que, neste exato momento, quando me olho no espelho encarando fixamente o meu ser é como se estivesse outro alguém me olhando de volta, me fazendo assim não ter coragem de contar a ninguém o que vejo através dos meus olhos. Já começo acreditar que prefiro assim, pois sei que eu que sempre manipulei bem as palavras não encontrarei desta vez uma construção capaz de definir a forma sombria que vejo, que vivo.
Através de mim este se manifesta, através dos meus olhos vejo o vazio e acho que chegarei sempre à mesma conclusão, em terças como estas estou morto.


terça-feira, 2 de junho de 2009

.da audácia II


Sou a audácia que me persegue, cárcere de mim mesmo.
A cabeça é uma ilha e coração o porto.
Sempre um porto por perto, falou.
E anoiteça o que anoitecer: o amor como audácia.
Eu estou sempre bem, disse enquanto partia com a cabeça austera, rumo ao próximo golpe de ar que nocautearia a razão.
Pôs naquele instante a solidão à frente e deu seu último sorriso, chegou ao chão impecável.
Dizem alguns que um dia escreveu no seu próprio corpo: "hey, fique jovem, jovem para sempre e invencível, você sabe quem somos e o do que somos capaz, anoiteça o que anoitecer"

segunda-feira, 25 de maio de 2009

.da audácia


a cabeça é uma ilha e coração o porto
sempre um porto por perto, falou
anoiteça o que anoitecer, o amor como audácia
a coragem com que proferiu as palavras impressionou
a voz trêmula até hoje ecoa com arrependimento pelas paredes do quarto
cárcere de mim mesmo, disseram eles
que faço das prisões do finito o atalho e o labirinto para fora daqui
estou sempre bem, disse enquanto partia de cabeça austera
rumo ao próximo golpe de ar que nocautearia a razão
pôs a solidão à frente e deu seu último sorriso
pois ele sabia que nada mais abalaria sua confiança
dizem alguns que um dia escreveu no seu próprio corpo
"hey, fique jovem, jovem para sempre e invencível
você sabe quem somos o do que somos capaz"
hey, eu sei que nada mais irá voltar, torne-se impossível de parar
porque nós sabemos o tamanho que somos, sabemos o tamanho dos nossos sonhos
e se quando chegar a hora e preciso for saberemos o que fazer
como quem fica na cama até tarde como se todo dia fosse domingo
como quem alimenta a cabeça com todas as coisas que são necessárias, quando se está com fome
porque eles, jamais ousarão outra vez pôr palavras na tua boca
e mesmo assim tu jamais vai se importar com isto
porque agora, você é maior do que o teu corpo
e eles jamais voltarão a questionar teu coração e mente
você estará sempre bem, anoiteça o que anoitecer

.da vida


Quando eu menos percebo eu tava de volta
com a mesma falta de vergonha na cara
procurando um lugar, um canto, um alento
no seu último vestígio, no teu território, na tua presença

Quando menos eu percebi eu estava outra vez
impregnado em tudo que era seu
em tudo que eu não posso e nem quero deixar que me abandone
em tudo que eu não posso e nem quero deixar que me abandone não

E de repente o telefone toca
novamente são quatro horas
e é você do outro lado me ligando,
devolvendo minha insônia, minhas bobagens

E de repente o telefone toca
novamente são quatro horas
liga só pra me lembrar que eu fui
a coisa mais brega que pousou na tua sopa

Eu sei, eu sei, mas mesmo assim
me perdoa daquelas expressões pré-fabricadas
de murmúrios, de bobagens, de coisas que sempre faço
que de tão canastronas, nunca funcionou nem funciona

eu sei, eu sei, mas mesmo assim...

me perdoa.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

.(dos silêncios)


O dia já quase amanheceu e eu, sem pensar
Atraco-me porta afora do meu corpo, fazendo-me escorrer pelo chão
Enquanto rebroto em forma de ave, sugiro à máquina que pare seu alvoroço
A voz do pastor retumba em meu peito e eu equalizo em AM a minha a sintonia
Era dia e quase brotava-me em forma de máquina
Sugerindo-me uma nova cor que retumbasse pelo chão do alvorecer
Equalizo o destino que porta afora voa como ave que escorre pelo céu
Enquanto o pastor atraca-se ao seu rebanho e eu ignoro como pensamento que sou
Alvoreceu, quem diria, e em forma de corpo ainda vejo nuvens sem céu
Sim, ninguém saberia, caso eu sumisse e como máquina rebrotasse do chão
Não caberia nem a mim, nem ao Pastor, nem a ninguém, dizer que a dor amenizaria
Semear flores ao alvorecer, colocar máquina à frente de um acorde
Pensar em pensar, e não notar que o dia se foi, acabara de anoitecer.

terça-feira, 12 de maio de 2009

.dos adeus




hoje a noite pesará cem mil toneladas
como um pesadelo que ronda a cabeça desde muito cedo
ascendo os olhos só para poder te ver melhor
desligo a mente só pra te imaginar
ficar vazio, puro, liquefeito, sem nada mais para me encomodar
hoje passarei a noite sendo arrastado pelos acordes que mais prefiro
e acho que hoje, por uma das primeiras vezes, atesto que tu desistiu de acompanhar, na parceria
talvez tenhamos motivos mil, mas a justificativa das razões são sempre quase nulas
hoje vai ser a noite em que todos eles darão o troco
hoje vai ser a noite em que meus olhos reflitirão outras luzes, outros brilhos
tudo deve ser tão forte, tão capaz de ofuscar
que depois que se apagarem, depois de a ultima musica ser tocada
eu vou sair para fora do salão e ver que tudo não passava de um sonho rápido como o vento
um rodopio da mente e que ao voltar ao normal eles foram embora
mas a noite fica, as estrelas voltam e brilham
e a que me chama atenção, segue no céu
eu estarei aqui na terra esperando o dia que ela cadenciará outra vez sua dança
e mergulhará dos céus até minha mão, na minha frente
esperarei pacientemente, cantando nossa canção favorita, na parceria

todos me farão falta nesta noite

quinta-feira, 7 de maio de 2009

.dos olás


Tu já deverias saber,
não se pode prever onde o tempo irá te levar
tampouco seria eu, capaz de antever isto
logo te convido para um olá sem pressa, sem dono e sem tempo
daquele tipo de olá que não se pode descrever
daquele tipo de olá que não se pode ignorar
daquele tipo de olá que não se pode nem saber
pra onde o olá irá te levar


feito.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

.da alma do mundo


Não havia viva alma no mundo e os cães exibiam seu explendor
caminhava eu, dotado de uma leveza sem igual, quase pluma, quase chumbo
com uma lisura de efeito cor neon, como uma microfonia que não se pode imitar
te procurava, sim, andava atrás de algo que não tem nome, não sente frio ou fome
ladrava eu para o vazio esperando você chegar, ironia como isto soava otário naqueles dias.
Olhei e senti uma alegria retumbante ao novamente sacar que não havia viva alma no mundo
não havia ninguém que pudesse caçoar de mim, tudo parado, tudo congelado
ninguém ironizaria as minhas atitudes ásperas, lotadas de pensamentos disformes e aleatórios
fiquei feliz por ser o único, por ser o menor e ao mesmo tempo o máximo
era somente eu e os cães que rasgavam o silêncio rosnando todo seu rancor
era tudo intenso, pesado, dotado de uma densidade jupteriana
de uma aspereza cor batom, tudo soando nos meus acordes preferidos
tudo vazio, tudo vazio, pois não havia que pudesse reconfortar aquele momento celebrante de se estar só
e de ter procurado tudo isto dentro de mim e saber que mais uma vez, naquele momento
não havia viva alma no mundo

quinta-feira, 30 de abril de 2009

.passei


Passei tudo, passei a sexta, passei o sábado e também o domingo indo de um canto a outro, meio frouxo, meio meio, meio menos. Possivelmente louco, como de costume...
Eita porra meu deus (sim, em minúsculas, jamais maiúsculas), só me matando para curar tudo isto, pensei...
Penso que talvez nem queira mais nada com nada. Consegui! É isto, mas que diabos, eu sempre consigo... e dai... sou gente como toda gente, penso como todos que pensam, amo como aqueles que amam, tezão louco como todo tesão louco deve ser, musica viagem doida, como toda música, viagens, como toda viagem... etc...
Acho que vou retomar meu disco, retomar meu filme, ta ficando lindo. Eu rio, e é lindo, mas e dai?
Sabe, posso te dizer, não é só isso... mas isto sim vale a pena.
O problema é quando o mundo dói, a razão tá pouca, direção nenhuma, acho que de quando em quando precisamos que aconteça algo, algo diferente, definitivamente.
Pare já de ser hipocrita, alguem grita! Mas quem? Não sei direito, por isso corro feito louco nos campos da minha mente. Abstrata, selvagem, verde e o sol que corre entre as frestas desse enorme campo, plano, liso como aquele sonho que te contei, lembra? Bah, aquele sonho foi lindo.
Saiba que já esgotou o entendimento, não é mais questão de razão, viva a percepção, viva agora, viva as cinco casas da magia, viva o puro passar do tempo, remotando e escrevendo a volta de tudo que é... a volta das águas. O problema é que na ida tem o leito morto, mas na volta tem os novos oceanos, a descoberta da ilha, da terra.
Tomara que na volta todos estejam me esperando, alguns humanos e alguns cachorros, gosto de todos, mas quero que os que devem estar lá, estejam mesmo, será que estarão?
Não é delírio, não é dilúvio, nem devaneio, foi o que restou de um dia, de uma hora, nesses minutos, a pouco, agora...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

.twilight



sem saber o que dizer
derramo em meu blog um gosto de saber...
...
rosto que aparece de novo e amo
o rosto dela, rosto lindo!!!
vem de novo verdade
e molha assim meu amor transformado, doído...
sabe que bonito é...
sei...
e não me esqueço...
mostro a alma, dura
me leve...
eu desconfio...
preciso ter calma
preciso tentar
preciso ter tentado para ter calma
preciso ter calma para minha agonia
e sem saber sequer se ela ainda existe
há uma estrela que eu insisto em perseguir...

te esperarei todos os dias, as 5 na estação
até você chegar...


sexta-feira, 24 de abril de 2009

.filho único




Você me quer?
Você cuida de mim?
Mesmo que incrivelmente eu seja algum tipo medonho de pessoa egoísta e ruim?

Você me aceita (de qualquer forma)
E me dá a receita (injusto de mão beijada)
De como se faz pra conviver com um monstro imensamente mesquinho e careta?

E porque diabos é tão insconstante a forma de eu me respeitar?
Porque absolutamente não surge um imenso auto-falante que grite comigo
Mesmo que seja para me fazer entender que é estúpido agir assim,
tentando fazer tudo pra te irritar

E ah, se o mundo derrepente entendesse como é ser filho único (não é desculpa)
E que já disse o poeta, os filhos únicos são, por conta de sua natureza, seres infelizes

Eu tento mudar, não sei o quanto realmente me dedico a isto
Eu até tento (outra vez) provar que me importo com os outros
Mas a quem eu estou a enganar?
Lá longe, onde os pensamentos dormem eu sei que é tudo mentira (tudo mentira)

E que bela companheira é a solidão,
que afaga e lambe como sua língua tênue e doce

Se mostra em sua sábia forma de viver, entender e gritar aos cantos
nos que apesar de serem, sempre se sentem os menos amados

Que o destino me ajude a conhecer e conviver com a verdade,
como fazem os que têm irmãos...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

.dos cadernos do inconsciente



o primeiro gole de ti pra matar a saudades
a sensação do delicioso ranço do teu beijo que me lambe a boca
deslisa asperamente na língua, garganta adentro
tudo em uma textura escuro-forte que me rompe a exaustão, cala-me de sossego
aguça meus sentidos e me faz corar abruptamente

tu manipulas meus sentidos com beleza sem igual
como artista que se despedaça pela obra
me relaxa meus musculos e contrai minhas idéias
para logo depois estrapolar numa explosão nuclear de ansiedade sem fim
fissura por ti é o que sinto agora, tu me consome

quanto menos te deixo de lado, mais teu cheiro me provoca
quanto mais perto eu passo, mais tu mostra tua desfaçatez e me ignora
mas ao menor deslise, ao menor descuido, tolice a minha
tu me agarra pelas têmporas, me sacode e me tira do chão
enfia-te em minha boca, lambe minha sorte e me inebria a alma


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

.da parada obrigatória



O sol bate forte no meu rosto não enchergo quase nada 
A sede, a fome , o cansaço, não posso parar 
A noite vem chegando e com ela o frio 
Minhas pernas se arrastam, caio no chão e apago

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

.dos tempos de solidão




Onde estão aqueles tempos, em que tínhamos tempo pra tudo?
Onde estão aqueles dias, que se conseguia sonhar?

Onde estão aquelas caras, que criaram para si todo um mundo?
Onde moravam risos que não nos permitia chorar?

Onde estão aqueles tempos, que desmaterializavam a distancia?
Aqueles tempos que nem a saudades poderia apagar?

Onde estão aqueles tempos, em que lutávamos incansavelmente?
Tempos aqueles em que não se perdia a ternura jamais?

Onde estão os corações, que deixavam as portas abertas?
Para deixar o amor circular?

Onde estamos nós?


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

.dos contos


Bom dia, tristeza
Vejo que hoje vieste me visitar
Vejo que hoje tras consigo uma melancolia, sem cheiro
Me inebria de tempos que hoje não nascem mais
Me embriaga com papos que os livros não contam
De páginas rasgadas, em branco, sem tinta

Bom dia, avareza
Faz-me duro em tempos que até o vento chora
Me mantenha descrente e apático no que não é tocável
Me faça aprender à força, que as vezes, historia não compensa
Que outrora a palavra que valeu muito, hoje escorre pela parede

Ainda há muito para organizar, então não percamos tempo
O outono se lança inverno adentro
E vejamos que é o mais belo inferno
Que por aqui faz o seu caminho

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

.da desistência


Cá estou eu, sem motivo aparente mudando tudo outra vez. Já ressoou imediatamente em minha cabeça: "sou como um dado que rola, numa mesa de jogo, salvando uns e desgraçando outros".
Mas ainda tenho boas imagens do futuro que assembla ali do outro lado do muro, no horizonte, junto com o sol que nasce ao quinto minuto do dia que apesar das nuvens, insiste em raiar.
Trata-se de uma capacidade de desmontar tudo e reconstruir meus planos em velocidades absurdas, assim como foi a idéia de escrever um roteiro e derrepente vê-lo sendo exibido com um certo orgulho idiota para os que conheço apenas para ouvir opiniões e saber se está de acordo com o que eu imaginei. Sim, está.
E agora depois de pronto, um dia eu inicio as filmagens, inicio as montagens, inicio a correria toda para acabar o mais rápido possível e botar todos numa sala escura e depois de uns 8 minutos de um impacto visual, ver o rosto de todos se perguntando que diabos ele quis dizer com isto? É isto, é isto que quero e espero.
Quanto das idas e vindas pelo mundo? Sim, ainda estão ali prontos a explodir como uma bomba que aguarda atentamente chegar o segundo fatal e assim já embarquei na rotação da gravidade, girando sem parar.
Não quero me sentir um enjaulado, preso por detras de grades que não sei se me protegem do mundo externo ou se protege o mundo de mim. Quero fazer isto, pular cercas imaginárias, romper trancas inexistentes e abrir todas as portas das casas só para olhar para fora e por fim, sair pela janela, assim como o Sr. Henry me ensinou.
Mais um absinto, senhor comendador, mas sem uma gota de realidade, para não tornar o absinto pior.
Nos vemos por aí, não? Acho que sim. Espero que sim...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

.7 de paus


Como começar algo aqui que realmente interesse, que me leve a ler e achar interessante?
Este café nunca foi lugar de confidências, nunca foi lugar de para para analiser coisas tolas, lugar de fazer fama. Foi sempre construído sem pressa, sem dolo, mais para mim do que para qualquer um. 
O café tem estado solitário, inacabado, dolorido e castigado.
Eu tenho pensado tanto, em tanta coisa, que não quero simplesmente dividir, repartir, sair gritando aos 4 ventos, 7 mares, planetas e galáxias, porque não é merito, não é fator de orgulho, é somente resultado de árduo trabalho, dedicação embora eu jamais admita isto.
As oportunidades para mim tem surgido cada vez mais e com mais força, mais rápidas, mais insanas do que minha cabeça consegue acompanhar. Eu devo esperar, devo partir, devo chorar ou sorrir. Las risas e los llantos muitas vezes tem o mesmo motivo. Mas não me basta ter pouco, não me basta o suficiente, quero mais, quero tudo, quero agora!
E talvez realmente, não seja aqui o meu lugar.

Boa sorte a todos que ficam, pois o mundo gira, e eu, tratarei de acompanhá-lo!

silent