segunda-feira, 25 de maio de 2009

.da audácia


a cabeça é uma ilha e coração o porto
sempre um porto por perto, falou
anoiteça o que anoitecer, o amor como audácia
a coragem com que proferiu as palavras impressionou
a voz trêmula até hoje ecoa com arrependimento pelas paredes do quarto
cárcere de mim mesmo, disseram eles
que faço das prisões do finito o atalho e o labirinto para fora daqui
estou sempre bem, disse enquanto partia de cabeça austera
rumo ao próximo golpe de ar que nocautearia a razão
pôs a solidão à frente e deu seu último sorriso
pois ele sabia que nada mais abalaria sua confiança
dizem alguns que um dia escreveu no seu próprio corpo
"hey, fique jovem, jovem para sempre e invencível
você sabe quem somos o do que somos capaz"
hey, eu sei que nada mais irá voltar, torne-se impossível de parar
porque nós sabemos o tamanho que somos, sabemos o tamanho dos nossos sonhos
e se quando chegar a hora e preciso for saberemos o que fazer
como quem fica na cama até tarde como se todo dia fosse domingo
como quem alimenta a cabeça com todas as coisas que são necessárias, quando se está com fome
porque eles, jamais ousarão outra vez pôr palavras na tua boca
e mesmo assim tu jamais vai se importar com isto
porque agora, você é maior do que o teu corpo
e eles jamais voltarão a questionar teu coração e mente
você estará sempre bem, anoiteça o que anoitecer

.da vida


Quando eu menos percebo eu tava de volta
com a mesma falta de vergonha na cara
procurando um lugar, um canto, um alento
no seu último vestígio, no teu território, na tua presença

Quando menos eu percebi eu estava outra vez
impregnado em tudo que era seu
em tudo que eu não posso e nem quero deixar que me abandone
em tudo que eu não posso e nem quero deixar que me abandone não

E de repente o telefone toca
novamente são quatro horas
e é você do outro lado me ligando,
devolvendo minha insônia, minhas bobagens

E de repente o telefone toca
novamente são quatro horas
liga só pra me lembrar que eu fui
a coisa mais brega que pousou na tua sopa

Eu sei, eu sei, mas mesmo assim
me perdoa daquelas expressões pré-fabricadas
de murmúrios, de bobagens, de coisas que sempre faço
que de tão canastronas, nunca funcionou nem funciona

eu sei, eu sei, mas mesmo assim...

me perdoa.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

.(dos silêncios)


O dia já quase amanheceu e eu, sem pensar
Atraco-me porta afora do meu corpo, fazendo-me escorrer pelo chão
Enquanto rebroto em forma de ave, sugiro à máquina que pare seu alvoroço
A voz do pastor retumba em meu peito e eu equalizo em AM a minha a sintonia
Era dia e quase brotava-me em forma de máquina
Sugerindo-me uma nova cor que retumbasse pelo chão do alvorecer
Equalizo o destino que porta afora voa como ave que escorre pelo céu
Enquanto o pastor atraca-se ao seu rebanho e eu ignoro como pensamento que sou
Alvoreceu, quem diria, e em forma de corpo ainda vejo nuvens sem céu
Sim, ninguém saberia, caso eu sumisse e como máquina rebrotasse do chão
Não caberia nem a mim, nem ao Pastor, nem a ninguém, dizer que a dor amenizaria
Semear flores ao alvorecer, colocar máquina à frente de um acorde
Pensar em pensar, e não notar que o dia se foi, acabara de anoitecer.

terça-feira, 12 de maio de 2009

.dos adeus




hoje a noite pesará cem mil toneladas
como um pesadelo que ronda a cabeça desde muito cedo
ascendo os olhos só para poder te ver melhor
desligo a mente só pra te imaginar
ficar vazio, puro, liquefeito, sem nada mais para me encomodar
hoje passarei a noite sendo arrastado pelos acordes que mais prefiro
e acho que hoje, por uma das primeiras vezes, atesto que tu desistiu de acompanhar, na parceria
talvez tenhamos motivos mil, mas a justificativa das razões são sempre quase nulas
hoje vai ser a noite em que todos eles darão o troco
hoje vai ser a noite em que meus olhos reflitirão outras luzes, outros brilhos
tudo deve ser tão forte, tão capaz de ofuscar
que depois que se apagarem, depois de a ultima musica ser tocada
eu vou sair para fora do salão e ver que tudo não passava de um sonho rápido como o vento
um rodopio da mente e que ao voltar ao normal eles foram embora
mas a noite fica, as estrelas voltam e brilham
e a que me chama atenção, segue no céu
eu estarei aqui na terra esperando o dia que ela cadenciará outra vez sua dança
e mergulhará dos céus até minha mão, na minha frente
esperarei pacientemente, cantando nossa canção favorita, na parceria

todos me farão falta nesta noite

quinta-feira, 7 de maio de 2009

.dos olás


Tu já deverias saber,
não se pode prever onde o tempo irá te levar
tampouco seria eu, capaz de antever isto
logo te convido para um olá sem pressa, sem dono e sem tempo
daquele tipo de olá que não se pode descrever
daquele tipo de olá que não se pode ignorar
daquele tipo de olá que não se pode nem saber
pra onde o olá irá te levar


feito.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

.da alma do mundo


Não havia viva alma no mundo e os cães exibiam seu explendor
caminhava eu, dotado de uma leveza sem igual, quase pluma, quase chumbo
com uma lisura de efeito cor neon, como uma microfonia que não se pode imitar
te procurava, sim, andava atrás de algo que não tem nome, não sente frio ou fome
ladrava eu para o vazio esperando você chegar, ironia como isto soava otário naqueles dias.
Olhei e senti uma alegria retumbante ao novamente sacar que não havia viva alma no mundo
não havia ninguém que pudesse caçoar de mim, tudo parado, tudo congelado
ninguém ironizaria as minhas atitudes ásperas, lotadas de pensamentos disformes e aleatórios
fiquei feliz por ser o único, por ser o menor e ao mesmo tempo o máximo
era somente eu e os cães que rasgavam o silêncio rosnando todo seu rancor
era tudo intenso, pesado, dotado de uma densidade jupteriana
de uma aspereza cor batom, tudo soando nos meus acordes preferidos
tudo vazio, tudo vazio, pois não havia que pudesse reconfortar aquele momento celebrante de se estar só
e de ter procurado tudo isto dentro de mim e saber que mais uma vez, naquele momento
não havia viva alma no mundo