quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

.do ano dos aniversários


Acho que todos os dias são dia de algum aniversário nosso. Aniversário de cada coisa que eu já pensei e de cada devaneio que já sonhei. Coisas de que por algum instante eu quis ter ou tive e perdi. Se tudo isto fizesse aniversário a partir da sua data de concepção eu teria muitos aniversários todos os dias, tenho certeza.


Será com quantos anos está aquele meu sonho de infância de servir à aeronáutica está hoje? Já se passaram mais de duas décadas desde que eu era levado ao aeroporto Salgado Filho e de lá da plataforma ficávamos ansiosos esperando "um avião grande, né pai?".

Hoje entendo que tu também está sempre em busca de mais um aniversário, não com a mesma ansiedade de uma criança que espera o próximo brinquedo de aniversário, mas tua percepção é diferente não é, pai. Acho que é com uma sede de agarrar cada ano ainda à sua frente. Hoje, cambaleante tenta apenas manter a cabeça no lugar enquanto o tempo, este eterno aniversariante impiedoso não pára e por tudo o que tu já fez um dia, seja de bom ou de mal, te castiga, te cobra e o mantém aí, como se estivesse soldado ao chão, enjaulado em sua própria existência. Que falta dos velhos aniversários tu sente não é?

Já passaram tantos anos que eu fiz aniversário com tudo o que ainda não tenho que as vezes chego a me envergonhar por ter deixado escapar. A cada aniversário que eu passo eu vejo que mais se aproxima a percepção dos aniversários que quando jovens não sabemos respeitar. Não, não me julgo velho, mas vejo que é irreversível cada noite em claro, cada alucinação, cada precioso gole de cerveja que é sorvida com voracidade diante de um bar de beira-de-estrada, cada beijo e cada briga.

A cada dia eu faço mais e mais aniversários e a cada dia me sinto mais culpado por esquecer de comemorar a todos. Tudo tem se tornado mais real, como o velho sonho que amadurecera e sempre me levou a pensar quando chegaria o dia de eu voltar a fotografar em uma folha branca de papel apenas com um lápis, debaixo de uma sombra qualquer. Ou o velho sonho transformado de desenhar com os olhos mecânicos de uma câmera o cenários impresso na lágrima que escorria do canto do olho da criança que sentia a crueldade do presente urgindo sob seus pés.

E neste ano que se vai, que escorre por entre os dedos em ristes, decidi comemorar pelo menos um dos mais antigos. Quero me imortalizar e deixar meus rastros por aí. Mas não exporei apenas em galerias frias e sem vida debaixo de montanhas de concreto e aço. Eu deixarei meus desenhos andando, costeando e estalando nas encostas escarpadas dos prédios das cidades. Os muros podem ser os teu pés e as paredes da tua cara, minha fachada.

Vou imprimir tuas idéias, vou marcas épocas e também podar tuas flores com os teus poemas, vou numa fada ou nas navalhas afiadas de um tribal celta que se enrolará ao vento como os teus cabelos fazem à luz do sol purificar teu espírito e da tinta fazer minha motivação.

Em 2008 vou celebrar um aniversário e este sem dúvida, tem tudo para ser o mais importante que já comemorei na minha vida.

Feliz Aniversário, SILENT INK | TATTOO STUDIO


sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

.me encontre no corredor em espiral


- ...acho q nunca vou conseguir te conhecer como você me conhece, disse ela.

Não é difícil, mas tem que andar, caso não te importe. Tem uns caminhos mais escuros a serem trilhados, mas é só não ter medo das curvas que seguem logo depois da luz de cada quarto de metro.

Imagine tudo como se fosse caminhar num corredorzinho, a cada 2 ou 3 portas tem um quadrinho dependurado na parede vazia. Logo acima deste quadro uma lampada de halogenio que emana calor e faz cada foto e texto nele descrito brilhar. Passe então correndo e leia cada um deles, ali estão todas as dicas para desenhar quem tu quer encontrar.

Ao final do longo corredor, depois de 5 ou 6 curvas, perceberá que é um espiral que se formou ao longo de tudo e lá no centro, sem porta, sem teto, sem janelas, sem nada, está a salinha e um puff de couro sintético branco ao lado do azul celeste.

- Está tudo arrumado e guardado para ti. Estou esperando, não demore viu?

- Mas o celeste é meu, completou ele com o dedo em riste.

[fragmentos, dezembro de 2007]