sexta-feira, 29 de abril de 2011

.das não razões ao cotidiano


Andei pensando dia destes sobre as fases do meu cabelo. Afinal, não se trata de um cabelo comum, é um cabelo com personalidade, com vontade propria, com alguma teimosia até. Ao contrário do que todos dizem: - Tenho cabelo rebelde... tem nada... é tu quem contraria a vontade dele. Ele quer ser assim: soltão, torto e patifado.

Já mudei tanto e a algum tempo pensei em deixar ele maior, não grandão, mas o suficiente para fazer uns dread-locks... mudar o estilo, sei lá. Meio 4 e 20 sabe... coisas que só consigo descobrir pensando muito, afinal eu tenho uma natureza inconsequente guardada em algum lugar do meu ser. O problema é que ela surge de supetão e nas horas mais impróprias. Não que eu saia por aí rasgando cheques é bem verdade, mas sei que para o dia terminar bem sempre tem de se enfrentar uma tarde inteira...

Já são quase 75 dias sofá de casa, 75 dias de horizontes de fim de tarde, 75 dias de Ana Maria Braga, 75 de Globo Esporte, 75 de Radio e Fogão ligados. E como passou rápido, pensaria minha metade otimista, afinal, nem sinal daquela dor que me desgraçou tanto a alguns meses atrás, nem sinal de noites em claro, sem poder sequer suspirar pois inflar os pulmões mexe a estrutura óssea, logo mexe com o pescoço que também mexe com a porcaria da vértebra quebrada. Percebe neste ponto da linha de raciocínio a coisa já começou a mudar de figura? Lá se vão 75 dias de saco cheio, de osso quebrado, de um insistente espaço de 1 dedo na vertebra, da tal lesão com deslocamento de massa a direita... porcaria... nada mais é como antes, nem mesmo o cabelo.

Como diz a música: E eu, que tinha tudo pra ser feliz: Segundo grau completo e curso de datilografia.... resolvi escolher o caminho mais longo até o fim das férias... loucura completa dizem uns, até o dono da Floricultura perto do apartamento velho me parou na rua dia destes... - O que aconteceu aí?
- Lesão de vértebra, quebrei a primeira
- Ouch disse como todos, repetindo sempre a mesma cara feia...

Pois é... lá se vão 75 dias de tudo isto, de não precisar enfrentar a tal sociedade, o tal mundo das barbas bem feitas e dos cabelos bem penteados. A distancia da sociedade é como o amor, ele devora calças, come sapatos e roe ternos. Degusta satisfeito metros e metros de gravatas, devora numeros de identidade, devora endereços, amigos e dias da semana.
Todos estes, por sinal, são como sábado. O dia neutro que fica entre a semana desgastante e o domingo tão necessário afinal tem futebol, com cabelo cretino e tudo.

Tudo isto é possível porque eu posso ficar do jeito que quiser e o cabelo também. Hoje acordei por volta das 9hs da manhã, já meu cabelo despertou só em torno das 11 e mesmo assim se arrastou até tarde à dentro... pra dizer bem a verdade só agora está bem desperto, despojado, esbanjando estilo e isto que nem está no modelo jamaicano ainda. Ele está solto, sem precisar pentear, sem precisar de bonés ou toucas, sem precisar sequer dar qualquer satisfação, afinal, sociedade e vida normal é o que acontece lá fora, não aqui dentro, não aqui no universo das salas, sofás, lesões e cabelos despreocupados do cotidiano.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

.das dores das constatações


É complicado conseguir falar de si mesmo, seja por um motivo ou outro... é algo que tu está te condicionando a mostrar, mesmo sabendo que as pessoas te interpretarão de formas mais distintas, é o risco que se corre.

Muitas coisas serviam para isto. Diários, se bem me lembro... sou da geração de 81 então ainda tenho muita consciência do mundo analógico que se vivia, era uma delícia, talvez excelentes tempos nem tão distantes destes de hoje em que a tecnologia simplesmente transforma as pessoas em simples contatos no celular. Talvez nem raro seja ouvir um diálogo tipo:
- E aí, tem falado com a galera?
- Pior que não, perdi contato de todo mundo... troquei de celular
- Putz f*da

Ah não, que ironia, a esta altura os celulares já estão gravando os contatos no chip, sincronizam nomes telefones e mais alguns dados pessoais com algum servidor sei la aonde. Porque diabos não se investiga a utilização destes dados como invasão de privacidade, comercialização ilegal... vender uma lista imensa de números validos para Spams via SMS... aliás talvez tu que está de certo modo, mesmo que com meu consenso, infringindo a minha privacidade ao estar lendo este texto volte aqui ou em algum momento da memória para lembrar do que escrevi aqui e achar engraçado pois poderá ainda estar acontecendo.

Mas também aqui não é espaço para só ficar conspirando com o mundo, é lugar de reclamar calado a estúpida decisão de não comprar os remédios... Ah, amanhã eu pego e assim foi, ontem eu até comprei mas não tinha tomado. Tudo indo bem até não dormir esta noite, ficar com uma dor cretina te atormentando, te deixando um zumbi se arrastando as 11:50 da manhã de sexta-feira.

Dói fisicamente, dói mentalmente, dói psicologicamente tu ficar 48hs sem tomar um comprimido rosado somado a um Paracetamol 750mg a cada 8 horas e parece que a lesão não melhorou em nada, não dói a carne ou o osso. Dói a musculatura, dói pensar que se está tudo bem quando tudo é mascarado pelos opióides, quando tudo está escondido por trás de uma fina cortina de fumaça que alivia a pressão nestas horas.

E reclamando do pescoço lembro, lendo a Dilúvio(odiluvio.blogspot.com), do referendo das armas, aonde é preciso deixar pelo menos uma arma de fogo em casa. É para se sentir seguro, ficar louco e cometer uma barbárie sem tamanho. Realengo nunca mais será a mesma, mas depois de algum tempo aposto que cairá no esquecimento, como o Massacre do Carandiru, como a Chassina da Candelária, como o caso do Sequestro do Onibus 174 e tantas outras que amanhã já sairam de moda como o último carnaval.

Aliás, tenho esquecido de quase tudo. Qual é o país do Tsunami? As usinas de Fukushima estão ainda despejando desastres dizem os noticiários por aí... mas estamos seguros dizem uns ao analisarem que ainda temos uma estatística alarmante solta por aí... dizem eles com bocas cheias, estamos dentro do nível aceitável de radiação no ar... ah bom, sempre soube que os Maias sabiam enriquecer Urânio e desde lá temos níveis aceitáveis de material radioativo no ar que respiramos, na água que bebemos...

Que chatisse, só reclamar sem razão... agora vou ver o que mais tenho pra pensar hoje, enquanto a mudança não vêm.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

‎...aqui até o vento chora, ()


Depois que todos os valetes estão em suas caixas
E os palhaços foram todos para a cama
Você pode ouvir a felicidade invadindo a estrada
Pegadas cobertas de vermelho
E o vento sussurra, Mary

Uma vassoura varre melancolicamente
Os pedaços de vidas passadas
Em algum lugar uma rainha está chorando
Em algum lugar um rei não tem esposa
E o vento chora, Mary

As luzes do tráfego se tornam azuis amanhã
e refletem seu vazio sob minha cama
A minúscula ilha começa a afundar
Porque a vida que eles viveram está morta
E o vento grita, Mary

Irá o vento sempre se lembrar
Os nomes que ele citou no passado?
Com esta muleta, está velho, e está sábio
Ele sussura, "Não, este será o último"
E o vento chora, Mary