quarta-feira, 3 de junho de 2009

.das terças



Creio que estou morto. Morto pois não sinto nada.
Tento tocar algo sólido mas não tenho consciência exata disto. Posso sentir a pressão que estimula as terminações nervosas da ponta dos meus dedos, posso sentir o áspero da tua textura suave, posso sentir a tua pele delicada. Sinto mas não consigo lembrar, não consigo entender o que exatamente estou tocando. É como se alguém tivesse se apossado das minhas mãos, dos meus olhos, ouvisse através dos meus ouvidos, lambesse a sorte da doce morte com a minha língua, inalasse teu aroma inebriante no meu lugar, um alguém, que diabos, me rouba sem escrúpulos.
É como se simplesmente eu não fosse capaz de me importar com nada, como se sempre algo existisse para me afastar dali, de qualquer um e de qualquer situação. Como se a minha pele e meu corpo pertencessem a um outro alguém, como se cada vez que me abraçassem ou me tocassem, o estivessem fazendo em outra pessoa.
Não sinto nada, não sinto a presença das pessoas ao meu redor. As vejo falar, sorrir, chorar, numa explosão de rancor e sentimentos que apenas passam diante de mim, intransigentes, me ignorando com uma veemência que ainda me supreende.
Posso tentar explicar: é como se eu fosse um mero espectro, um reflexo distorcido da minha forma, mas somente isto, nada além disto, um reflexo borrado da minha personalidade que é incapaz de se importar.
Sinto um pesar intenso só de lembrar que tu não pode ver através de meus olhos para entender o que eu digo neste momento. Provar do gosto amargo da minha maldição, se sentir condenado por milhões de anos, como estou agora, neste mundo paralelo que assola a alma e congela a razão, rasga a carne como se fosse papel, brinquedo. Às vezes até penso que seja sorte tua não saber como é, pois não sei se tu resistiria. A cada manhã é como se eu despertasse de um sonho ao lado de alguém muito especial. Mas não alguém concreto, alguém que me deparo e não julgo ser melhor ou pior, mas apenas outra parte de mim, um demônio que sonha mas não sente nada nunca.
Tentar encontrar esta consciência acho que é possível, mas parece sempre haver algo altamente disposto a me impedir. Sempre que tento encontrar respostas o destino me torce e soterra todas as lembranças de quando pareço finalmente ter encontrado alguém que me agrada, que gosto. E então que, neste exato momento, quando me olho no espelho encarando fixamente o meu ser é como se estivesse outro alguém me olhando de volta, me fazendo assim não ter coragem de contar a ninguém o que vejo através dos meus olhos. Já começo acreditar que prefiro assim, pois sei que eu que sempre manipulei bem as palavras não encontrarei desta vez uma construção capaz de definir a forma sombria que vejo, que vivo.
Através de mim este se manifesta, através dos meus olhos vejo o vazio e acho que chegarei sempre à mesma conclusão, em terças como estas estou morto.


Um comentário:

Nikaperucita disse...

Lástima que no entienda ni papa.. :)
Pero me he pasado eh! jaja XD