quarta-feira, 30 de setembro de 2009

.dos desejos


Poucas palavras arriscam-se a abandonar a garganta agora,
contudo muita imaginação ao seu redor.

Eles dois e tu, porque há muito não falo de ti.

Como uma gata que mia e se roça na mesa, na cama.

Todas as manhãs desperta com olhos de felino,
arranhando a água que derrama do chuveiro.

Ri sozinha enquanto reclama, e manhosa relembra, aos beijos,
com outros dois.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

.do saber


O sol cai
bem em cima do inverno de abril e de mim, certeiro
lembro nitidamente do que ela me disse
e sei não vai mais voltar pra repetir

Queria
fosse somente por mais um segundo
meu velho desejo de congelar o tempo
era criança e naquele momento eu tive certeza
ela não vai mais voltar

O pensamento foge, corre com tudo que tenho pro lado de lá
era a chance de ter vivido mais, menos laranja, mais pomar
mais sem hora pra acordar, menos pressa para chegar
sonho utópico de quem perde a hora e quer recomeçar

acredite só em seus ouvidos
eles são os únicos em que se pode confiar
o que você vê é mentira, são teus olhos a te atraiçoar

vai ficar ainda sentado? torcendo pro amanhã chegar antes da hora
pensamentos aleatórios, ainda agora tu me ronda
vou fugir, hoje quero ser mais azul
quero ser menos água, mais mar

que porcaria.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

.do ano dos 27 anos


Caminhei até a podre e velha adega e peguei o último vinho. Caralho, talvez o último do inverno, abri "com gosto", tomado de um prazer que não saberei direito explicar. Preciso confessar coisas que só o vinho me deixa à vontade para contar agora. São memórias que deveriam ter ficado no esquecimento, deveriam ter se perdido para sempre numa destas bebedeiras quaisquer. Mas eu guardo tudo para o último dia, o último instante.
Assim começa o fim do último dia do ano dos meus 27 anos.
Não sei exatamente se quando o ano 26 morreu ou o 27 nasceu, que eu decidi abandonar tudo, mudar da raia, sair de ato, largar o violão sem tocar a última canção e descer do palco. Com determinação enverguei a sofrível curva do destino que nos determina a ficar em um estreito e ínfimo corredor que delimita o meu espaço entre o dos outros competidores. Correção, estupidez a minha de achar que se tratava de competir... ali em cima eu menti, pois não se trata bem uma competição e sim um condicionamento mental sem inimigos, sem concorrentes. Ah, se tivesse percebido antes.
A corrida dos ratos é assim, no início, cada um em seu cubículo, onde todas as instruções e regras são passadas por durante toda uma infância enquanto te preparam para o dia de finalmente ser liberto (sic). Minha vez no páreo chegou relativamente cedo. Era com 16 anos que estreiei nas, então macias, areias da doce pista que estaria diante de mim por todo um tempo de vida (assim acredito que era o plano).
E como o tempo passou o tempo, este maldito incansável que agarra-se nas crinas do seu cavalo alado, que faz me esquecer de mim e que também me faz recordar tempos depois, me faz descobrir novas vocações na impiedosa tarefa de tirar as pessoas do sério, de deixar marcas nas memórias de muitos, de jamais deixar o meu nome ser esquecido. Diabos, sorrio e bebo mais um gole, sou muito bom nisto.
O ano 27 fica marcado como o ano em que a corrida não mais importou, onde tudo ficou pra trás, contas em banco, tv a cabo, internet, carro, computador. Lindo, absolutamente lindo, é a simplificação da metáfora: "herói hoje é quem quebra os cartões e foge pro meio do mato". Tudo tudo simples, tudo.
Chego hoje em casa e toco violão, finalizo aquela musica que eu começei semana passada e que não deu tempo de terminar, enquanto lembrava de ti. Já tive inclusive tempos em que até minhas mais antigas vontades voltaram à tona. Hoje eu ja sei tocar uma meia dúzia de músicas, descobri e admiti que não sou um Cazuza, tampouco um Liam Gallagher. Mas sei que consigo arriscar em um tom de voz que não compromete, que fica no meio termo, algumas canções. O médio é legal, nem mais, nem menos. Ouço meus heróis de ano após ano cantar la ao fundo. PUTA QUE PARIU, OASIS. Finalmente em noites como estas eu posso ser até mesmo um Rock n' Roll Star.
Hoje eu sei a quem devo explicar algumas coisas e sei o que devo fazer para os que não precisam de nada meu e descobri que tampouco vão tirar à força. Ignorar, ato totalmente honesto mas irrevogavelmente cruel.
Hoje minhas memórias eu faço de sonhos, de utopias que crio e desminto diariamente. Embarco num avião e quando vejo estou em Montevideo, puta viagem massa. America do sul é o que não muda ano após ano, paixão simples e derradora.
De longe meu relato está sendo tão ou mais confuso quando a política no planalto central, eu sei, mas vamos lá, este é o maior símbolo da corrida dos ratos, que hoje está sendo digerido, engolido, mastigado. Estou tão completo de 27 anos que exatamente agora, faltando 2 horas e 21 minutos para o ano dos meus 28 anos iniciar, sei que ja posso até aprender uma nova canção. Me descupem, preciso sair, vou tocar guitarra e esperar o tempo passar como se este último dia fosse uma bela manhã de domingo.

I’m tired and I’m sick
Got a habit that I just can’t kick
(I) Feel hungover and I’m all in love
When the lights go down
I’m gonna shoot ‘em all/up

S’alrite
Don’t be afraid
You gotta keep dreaming in the bed you made
And if it tastes like shit
Well, it beats sleeping rough on the floor

Keep saying that my head’s locked up in the clouds
Keep praying that the lord won’t slow me down
I’m tired and I’m sick
Got a habit that I can’t, won’t lick
Feel hungover and I’m all in love
Let the lights go down
Me and you are gonna shoot em all/up
Queria ter escrito isto, mas quem sabe um dia alguem não aproveite algumas idéias e eu não me torne mesmo um imortal.

Feliz aniversário Gustavo, Feliz aniversário Silent

*fotografia por : Rafael Luchetta

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

.dos aniversários



eu procuro tesouros em terras desertas
eu vejo o X marcado no ar...

sou um nomade dos novos tempos...
nasci de um lado que não é certo
acho que de um lado avesso

acredito ter uma falha mecânica nos olhos
um defeito nos joelhos
uma mente em colapso com meus sonhos
sonhos estes que não me deixam parar de andar...