quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

.da vida monção, da vida deserto

Condense todo esforço de vida numa chuva torrencial, não digo chuviscos, mas chuva daquelas que nos assola os ossos e a alma. Que cai e chega doer, que inunda, que varre, que arrasa, mas também deixa detritos e empilha sujeira.

Há chuvas que não passam nunca, sorte deles, são quase monções que se partem em milhões de gotas para alcançar maior área possível e fazer da lama fresca seu jardim, contudo, há lugares em que a chuva não toca à centenas de anos que são áridos e o vento lambe o chão levantando seu castigo, coitados dos que sofrem destas estações.

Acho prudente que tudo não descambe vida afora sem controle algum, sem limite ou mesmo uma espécie de muralha, mas confesso que quando acontece, custo a aceitar. Mas que maldição, só posso crer que é assim deste jeito que o destino, intrépido cowboy em seu cavalo alado, mantém o controle de tudo.

Em horas vejo a vida como um rio veloz e furioso, que avança contra rochas e paredões de pedras e nada é capaz de impedir seu progresso é quando sinto prazer de me ver embarcado nesta porção de desventura, mas quando chega a calmaria, logo após a queda pela cachoeira, local a qual não há vento nem maré, nem esperança, nem correnteza é que temos de ser fortes e saber que a única forma é empunhar os remos e procurar não a margem para ficar e esperar derrotado, mas rio abaixo buscar uma nova fase para se sentir vivo outra vez, e como eu demoro para lembrar que possuo remos logo ali debaixo dos meus pés, e como eu desacredito fácil que já adiante tem muito mais a percorrer antes de alcançar o mar.

Sempre foi assim, fui sempre navegando e desde que me recordo, alterno entre grandes lagos e arrebentação de marés, entre corredeiras e profundos e serenos poços, traiçoeiros e mortais, serpenteando num terreno invisível coberto por água, acidentado e desolado.

Hoje eu vejo a chuva que se desprende das nuvens e traz consigo sua fúria para beijar o chão, hoje já sei que posso serenamente sorrir para ela pois me escorre com esperança pelos olhos, me mata a sede e me limpa. Deixo-te solta chuva, deixo-te que me ensope os ossos, que assole a alma, pois a minha vez de rio veloz, assim espero, está de volta.


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