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Era cedo, pouco adiante das 8 da manhã e naquele instante eu estava com a retumbante certeza de que poucas coisas na vida possuem a plena capacidade como a de um alarme de celular transformar travesseiros em rocha pura e deixar cobertores com textura áspera e asquerosa quase te obrigando a levantar.
Lembrei-me por algum motivo de uma época remota perdida entre as minhas descobertas da pré-adolescência... trancados no quarto as horas lá fora empurravam as pessoas em suas rotinas, carros com motores pulsantes zuniam nas ruas e o calendário avançava sem dó mês adentro. Eu e ela, dentro um do outro saciando uma sede árida com a pouca saliva que nos restava e com um certo orgulho ingênuo tempestuávamos sobre a calmaria que a situação pedia. Só tínhamos um ao outro e só precisávamos daquilo e mais nada, pois lá fora, tudo não passava de horas, de dias, de meses, de marcações estúpidas e retóricas inventadas para regrar o que não precisa ser regrado.
Devidamente mastigado durante um fim de verão, um outono e um copioso inverno tudo que eu precisei estava logo ali, ao alcance de uma rolada no colchão ou de um comprimido revestido de algum material sintético de absorção lenta. A sensação de estranheza foi se tornando raciocínio lógico, o despertador tocava, os olhos observavam o travesseiro recém transformado em pedra, era pouco adiante das 8 da manhã de sexta-feira e eu não parecia estar preparado para aquilo.
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