segunda-feira, 19 de março de 2007

.seu livro está comigo

Domingo, 10 horas e 23 minutos da manhã, abro os olhos com visíveis sinais de desencontro e perturbação. Me movimento lentamente, ainda deitado, até reconhecer os buzináços da sinaleira da Venâncio e concluir geniosamente, Porto Alegre, Brasil. A menos que no céu possua congestionamento de nuvens com seus potentes "subwoofers Xplode" emitindo frenéticas frequencias provindas de arpas envenenadas e trombetas distorcidas de alguma banda cover de arcanjos tocando Repitilia, soando como um Tomahawk vindo cegamente em minha direção faça sucesso por lá. Aumento um pouco o volume do pc, a música troca, Oasis.

Já passado do meio dia, pensei em fazer uma aquisição de algumas camisetas na Azul Cobalto - Café e Vestimenta - que fica na Lima. Um agradável café que também vende camisetas de estampas estranhas como aquela com a silhueta da capa do filme "A Clockwork Orange" do Stanley Kubrick, entre outras igualmente curiosas. Passando em frente da loja ainda fechada, tomo a primeira rua a direita e agora rumo em direção ao brique da redenção.

Idéia inicial? Adquirir Cem Anos de Solidão, seguindo o plano que à alguns dias atrás fora meticulosamente traçado neste mesmo café, contudo n'outra xícara.

Varrendo com olhar atento os livros, dispostos ordenadamente em filas, uns sob os outros em uma precária mesa de cerca de 3 x 1,5 mts montada numa aparentemente frágil estrutura de metal que balança quando se manipula os livros.

Divido espaço com outros visitantes em busca de algum bom exemplar para ler quando deparo-me frente ao exemplar, já bastante castigado pelo tempo, de Feliz Ano Velho, com sua capa dura, preta, e uma foto de uma taça de dry martini espatifada num chão igualmente escuro. Passando uns 2 segundos vejo que um senhor, também carregando suas marcas deixadas pelo tempo, observando o mesmo livro.

Tento disfarçar para não parecer arrogante, olho o livro logo ao lado enquanto ele estende seu braço e apanha o livro de Marcelo Rubens Paiva. Neste segundo tomado por um sentimento subito de raiva, pensando que perderia aquela obra, tranquilizo-me um pouco ao ver, em seguida, devolvê-lo à mesa. Num rápido movimento de mãos, agarro-me ao livro, dou a volta na mesa, pago e após um asceno rápido de despedida tomado de satisfação vou em direção ao outro lado da rua já foleando as primeiras páginas.
A surpresa fica por conta da tarjeta marca-página com um estranho recado:

"Sônia, espero que gostes de chocolate. Um beijo da ........"

Escrito em letras trêmulas, finalizado com oito pontos, reproduzidos na íntegra, como se estivesse dentro do metrô ou de um ônibus, quando fora escrito, indo em direção à casa da "Sônia". De qualquer modo ainda permanece o mistério a menos que "Você" ou a "Sônia" passe aqui para um café e reconheça seu antigo livro!

PS 1. Não devolverei, não adianta fazer proposta alguma!
PS 2. O melhor dos sebos são as histórias dos livros, que fico criando em minha mente. Quem já leu, por onde passou, quanto tempo ficou guardado na estante, já fora emprestado?. Este em questão, edição de 1989 do Círculo do Livro, São Paulo, tarjado como venda exclusiva para os Sócios do Clube. Obrigado pelas boas-vindas!

2 comentários:

Leda Malysz disse...

. aaii. eis que minhas duas xícaras foram servidas com o gabo aparecendo entreaslinhas. é livro de se ser vivido, chorado, amado, se entregado. boa procura, querido. beijos e boa semana.

Anônimo disse...

Poxa... o livro que dei a Sônia... como a vida é engraçada...

:o)