sexta-feira, 9 de março de 2007

.das saudades dos que deixei

Meço cuidadosamente cada passo destas primeiras semanas como cidadão Porto-Alegrense e vejo que cada rua, cada prédio desbotado que cortava verticalmente o céu, todas as vezes que a chuva - que tenho certeza em erechim me irritaria, aqui nem tanto - caiu sobre meus ombros me fazendo apressar o passo, carros, ônibus, buzinas, luzes e cada pessoa em seu ritmo frenético me revolviam a memória e me faziam lembrar de todos que deixei.

Percebi que ao longo destes dias que não é saudades de voltar, sequer de ter tudo outra vez. É vontade de poder ter o argumento certeiro para cada um, aquela palavra contundente que entra em nosso coração e mente como uma adaga finíssima, afiada, convincente, dando ares de solução e esperança e coragem a todos que deixei.

Todos temos nossos medos, medo de arriscar, de lançar-se em territórios desconhecidos e realmente acreditar de que é hora de partir e não mais ficar, que é hora de abraçar uma nova visão e tentar acreditando-se veementemente que tudo será melhor um dia.

Talvez uma das frases mais cruéis em uma das inúmeras vezes que meus pais tentavam, sem sucesso, me salvar, me resgatar e mostrar o caminho correto e seguro, onde sequer pedras eu encontraria, sem compreender que aquele sentimento de proteção os cegava e não permitia entender que eu mesmo deveria encontrá-lo, e parafraseando Paulo Coelho escrevi na porta do quarto. "A juventude é assim mesmo, faz tudo sem se perguntar se o corpo agüenta, e o corpo sempre agüenta!".

Hoje eles vêem que não se tratava de apenas uma fase da adolescência, onde sob qualquer motivo eu usaria de todas minhas forças para criar uma tempestade e gerar discussões, naquela minha falha tentativa de criar opinião própria e ter decisões sob minha responsabilidade. Mas justamente o novo espírito nascendo, aquele que seria capaz de cruzar a linha de "pó-de-tijolos"1 que temos diante de nossas portas, onde este tipo de crença apenas nos deixará trancados em nossos quartos e casas, criando a ilusão de que assim estaremos protegidos de quem irá nos fazer mal.

Mas será que todos nós iremos descobrir a tempo que de tanto sentimento de auto-proteção e auto-preservação é justamente o que nos faz mal? Não são os outros e sim nós mesmos. Caso não tivéssemos construído embarcações, não tivéssemos tentado cruzar o oceano, e se nunca tivéssemos levantado uma espada ou ter gritado frente a uma idéia, defendendo-a dispostos a pagar seu preço, realmente acreditando que aquilo revolucionaria o mundo?

É para isto que estou aqui, para sentir saudades dos que deixei, para saber que cruzei aquela "linha" sob uma luz que parecia cegar e me impedia de ver o que havia lá fora. Não é fácil decidir, sequer é justo deixar tudo em busca de um sonho que pode não ser certo, mas e se você fizer o caminho e realmente tudo acontecer, estaremos todos dispostos a pagar o preço por não ter arriscado?

É por isto que sinto saudades dos que deixei, é por isto que aquele que um dia vocês conheceram, cheio de idéias algumas vezes interessantes, e porque não admitir, tantas outras tolas e sem sentido algum ainda continua aqui. Vendo em cada migalha do tempo um pedaço de vocês, em cada segundo que gostaria de ter um de vocês aqui mostrando oportunidades que teriam neste espaço que é a cara e a casa de cada um de nós. Quando me refiro a aqui, não é para que sigam o meu caminho, mas fazê-los crer que todos tem o seu próprio, encontrem-o, façam-o, acreditem e sigam pela estrada de "tijolos amarelos"2, mesmo que esta chegue em uma terra de sonhos, mas a jornada pelo os permitirá adquirir conhecimento por terem tentado.

É por isto que ainda acredito nos que tem coragem de mudar, é por isto que sinto saudades de todos que deixei.

Pois eu acredito!

[1]
Chave Mestra, 2005
[2] O mágico de Oz, 1939

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho q é por isso q aceitei esse novo desafio... q pra mim parecia imenso.. uma vez q sempre estive mto bem trancada e protegida em um escritório... e agora, tendo q enfrentar cara a cara os que me pões a prova... vejo qto tempo perdi em não procurar este caminho...

Agora posso dizer... eu não acreditava... mas passei a acreditar...

Saudades desse cara cheio de idéias...