sexta-feira, 27 de julho de 2007

.da ausência da ausência


Será que é possível perceber quando chega o momento para parar, relembrar e contar a todos tudo que aconteceu? Soa estranho, como um acorde desafinado, tentar contar novidades sobre uma viagem que tu sabes, ainda não terminou. É como estar ainda lá, com o pé na estrada, cabeça na lua e o mundo todo à sua frente e tentar inventar uma parada, mostrar os souveniers coletados pelo caminho à estranhos, curar os calos e lamber as feridas que o tempo lhe deixou de lembrança e logo a quem interessaria a tua história, não estar aí do seu lado para pacientemente ouvir. Mas agora sim, o fim. Justifico dizendo estupidamente que foi isto que estava acontecendo, a ausência da ausência. Mas agora, nostálgico, contar sobre os mais de cem anos de solidão que passam diante dos olhos nesta hora em que senta-se e frente ao bloco de papel ainda pálido, acomoda no colo, se empunha a caneta com a mão direita e embebe sua alma no café, tentando aliviar o estado nostálgico deixado pela jornada. A ausência da ausência é a mais estúpida, e covarde forma de justificar este vazio, este espaço, este monobloco que não teve novas linhas, tampouco pontilhados para serem preenchidos posteriormente. Foram os dias cheios, as horas incansáveis de péle, de cheiro, de bocas e lábios, de toques e desejo que impediram a ausência assumir seu papel.

Mas agora, em um novo parágrafo, tudo voltará a faltar e eu terei tempo para relembrar e te contar tudo outra vez, mesmo que eu saiba que tu fostes a protagonista do que ainda não escrevi.

Obrigado por ter esperado o tempo passar ao meu lado e obrigado por ter querido estar ali esperando junto à porta, justamente na hora em que eu precisava de uma mão para abrí-la, pois eu estava chegando da rua cheio de bagagem-problemas e queixas-fúteis sobre os ombros. Obrigado sorrir enquanto me ajudava a tirar das costas tudo o que eu trazia lá de fora e por me contar com os olhos sobre as magias que usavas para renascer e em no momento-imprevisível me fazer sentir bem-vindo eu teu calor-leito-de-aconchego, tão perfeito quanto quando a vida pede a morte, o azar a sorte. Obrigado, por no meio da madrugada me acordar com um beijo só para dizer que ainda que calada, estavas ali, logo alí ao lado.

Nenhum comentário: