terça-feira, 24 de abril de 2007

.gothan city

Com o perdão pela infâmia de personificar as palavras originalmente pronunciadas pelo grandioso Marcelo Nova, me vou com o violão : E / G F#m (E G F#m) "Aos 25 anos eu nascia em gothan city, era um céu alaranjado em gothan city..."

Eu já tinha ouvido alguns rumores rondando os corredores do hostel, sim, com a maior cara dos famosos albergues de Buenos Aires, o Edifício Ada é palco das mais bizarras cenas já vistas na capital Gaúcha. Lá você poderia encontrar em meados de Fevereiro último, quatro jovens completamente transtornados com serras, martelos e parafusadeiras montando móveis sendo que um deles foi visto com um chapéu de orelhas do mickey.

É possível presenciar também o espetáculo que ainda renderá alguma grana para o apto 710, apostando na da pauta da semana nas escandalizantes discussões entre mãe e filha do 800 e poucos do outro bloco logo em frente da janela da sala. Além de fantasmagóricos vizinhos, praticamente ratos urbanos fumando e jogando alguma coisa no playstation rodeados de uma zona completa na sala onde mal se teria espaço para passar, quanto mais para acomodar-se.

A lenda que ainda me soava como uma das mais curiosas ainda é a dos morcegos que voam aparentemente sem direção e controle no vão que tem entre as torres dos blocos do edifício invadindo os apartamentos. Algumas vizinhas comentaram nos corredores sobre os pobres voadores presos nas cortinas, cerca de 10 ou 12 (recorde deste ano no apartamento), o que não deixa de ser um número espantoso.

Meu sono corria bem até ouvir uma batida no quarto, não alta, tampouco assustadora, por volta das 6:15 da manhã, acredito que na janela ou nas caixas de sapato em cima do guarda roupas. Eu durmo abusadamente (só) de cuecas e deixo a janela e vidro abertos tentando ser acusado por atentado violento ao pudor, onde argumentarei em minha própria defesa que sou apenas uma inocente vítima do super-aquecimento global e que no inverno a grotesca cena não ser repetirá.

Eis que ao abrir os olhos vejo o teto se movendo, percebo que não era o teto e sim um ponto preto voador no teto. Era inusitado visitante, um morcego. Genial pensei, logo cedo durante a manhã, talvez levemente desorientado pela luz que começava a surgir no céu neste terça-feira entrou no quarto.

Me senti o próprio ozzy e fiquei observando o estranho ser sobrevoando minha cabeça, contudo parecia mais perdido do que o normal. Como a mais grandiosa capacidade dos mamíferos da ordem chiroptera é justamente o sonar de eco-localização ou biosonar, o ventilador de teto parecia deixá-lo completamente transtornado pois as pétalas moviam-se deslocando o ar e os tecnicamente o objeto que ele tentava desviar não estava mais no mesmo lugar que segundos atrás.

Tentei deixar de lado aquela tese de arrancar a cabeça dele a dentadas, num ato de pura compaixão com o dócil mamífero, apanhei o travesseiro com a intensão de criar uma parede virtual antes do ventilador para que ele detectasse a nova barreira tecnicamente fixa e voasse em direção da janela ainda aberta.

Primeira tentativa: ao lado do vidro fechado da janela num angulo de aproximadamente 45° o morceguinho se estatelou na parede caindo no chão, plano falho, melhor reposicionar a barreira.

Ok, lá vou eu, segunda vez: Praticamente na parede oposta, diminuindo o corredor por onde ele voava agora paralelo à janela e ele desvia, lá vai ele, lá vai ele, não, não, para o outro lado, pow, ventilador e chão outra vez. Que bichinho idiota pensei, mas acho que realmente o problema era eu.

Ele alça vôo novamente e agora sim, descobri que ficar no outro canto ainda, entre o guarda roupas e o ventilador fazia ele voltar no sentido contrário à sua trajetória, então ok, barreira ao lado do guarda-roupas, ele encontra, vira meia volta e lá vai ele. Num golpe rápido arremessei o travesseiro em direção à cama, impedindo que ele voltasse a andar em círculos e pasmem, sucesso total. Detectou nova barreira e voou janela afora.

Sentí-me um próprio controlador de vôo e entendi parcialmente a crise dos aeroportos.
Heroicamente pensei: Sem a minha ajuda acredito que o pobre Bat ainda estaria lá enlouquecido.

Um comentário:

Anônimo disse...

vc se sentiu o Ozzy hahahha, quanta aventura heim!